terça-feira, 10 de abril de 2012

Friedrich: O Andarilho Sobre o Mar de Neblina (1817)

 por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -p/ blog do noblat

O pintor gótico romântico Caspar David Friedrich combinava influências da literatura, música e natureza germânicas com política e religião e as apresentava em alegorias como forças superiores. Seu trabalho sombrio, místico e fascinante, foi visto como chocante ruptura com o passado, margeando um confronto com o expressionismo; seu ideário permanece extraordinariamente relevante.
Os nobres prussianos e russos compravam muitas de suas telas, amavam aquele apelo forte, ávidos por uma idéia nova, uma espécie de fuga, uma possibilidade de aventura.
 
O Andarilho Sobre o Mar de Neblina (1817) é o quadro que talvez melhor represente a mensagem romântica e o talento de Friedrich. Sua paleta de cores frias e ácidas, com a qual obtém uma brilhante luminosidade, amplia a sensação de melancolia, de isolamento.
A tradução do título não ajuda muito: em alemão é Wanderer über dem Nebelmeer.  “Wanderer” tanto pode ser o caminhante perdido e procurando reencontrar seu caminho, como o andarilho resoluto. “Nebelmeer” quer dizer literalmente Mar Neblina, mas pode ser interpretado como um mar criado pela neblina.
Estudiosos da obra de Friedrich, e do Romantismo Alemão, acreditam que a mensagem transmitida por esse quadro é a auto-reflexão kantiana, que se expressa pelo homem em atitude contemplativa diante da opacidade de um mar de neblina.
Já outros crêem que a tela é uma metáfora sobre o desconhecimento do que o futuro nos trará. Uma terceira corrente afirma que o pintor quis mostrar que o homem, ao mesmo tempo que domina a paisagem, é minúsculo diante da força da natureza.
Da mesma forma que outra das telas célebres de Friedrich, O Mar de Gelo, (foto à esquerda) obra que foi conhecida por pelo menos outros três nomes, todos se referindo a uma cena idealizada pelo pintor.
Mas, curiosamente, na listagem de seus bens, aparece como “Quadro do Gelo. A malfadada expedição ao Polo-Norte”. Um barco naufragado no meio de pedaços de gelo partido que se amontoam sobre os destroços após o impacto. O gelo torna-se uma espécie de tumba monolítica. Parte da popa é visível à direita e uma inscrição parece confirmar que esse é o HMS Griper, um dos dois barcos que participaram das expedições de William Edward Parry ao Polo Norte, uma em 1819/20 e a outra em 1824.
De novo a pequenez do homem diante das forças da Natureza? E por que o pintor não quis revelar em vida o que pintava? Enfim, tudo em Friedrich pode não ser o que parece...

O Andarilho Sobre o Mar de Neblina, 1817, óleo sobre tela, 94 x 74,8cm
Acervo Kunsthalle, Hamburgo

O Mar de Gelo, 1824, óleo sobre tela, 96.7 x 126.9
Acervo Kunsthalle, Hamburgo


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