quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Espiritualidade em Friedrich

Enviado por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa para o Blog do Noblat

Pintura: A Espiritualidade em Friedrich

Apesar da tranquilidade e harmonia que encontrou em sua nova vida de marido e pai, Caspar continuou a ser um homem atormentado por antigas lembranças. O sofrimento pelo qual passou na infância (a perda da mãe e de um irmão) afetou profundamente a natureza já extremamente sensível do pintor. Ele vivia obcecado com a ideia da morte, com sua fé em Deus e com a paz da Natureza.
A beleza da paisagem solitária da costa do mar Báltico, a cadeia de Montanhas Gigantes (Riesengebirge) e as Montanhas Harz lhe proporcionaram muitos temas para seus quadros. Nas excursões que fazia, Friedrich desenhava os arco-íris, os velhos carvalhos e os pinheiros que via e que tinham, para ele, um imenso significado.
O pintor, influenciado pelas referências góticas e com tudo que adquiriu intelectualmente ao chegar a Dresden, muitas vezes recorria à imagem da abadia cisterciana em ruínas que ficavam próxima de sua casa, na Pomerânia natal, em meio a um imenso bosque de carvalhos; essas imagens, sempre em tom místico e em comunhão poética com o divino que sentia na natureza, foram recorrentes em sua obra (vide quadro acima, Casal Contemplando a Lua, 1818).
“O divino está em toda parte, até num grão de areia”, escreveu. A fusão que ele fez da observação atenta do seu entorno com a piedade que lhe invadia a alma, resultaram em quadros de grande expressão e forte espiritualismo.
O protestantismo repassado pelas artes plásticas na Alemanha do início do século XIX tendia a ver a natureza como mãe pagã mais do que como criação de Deus, bastante próximo do panteísmo, segundo alguns críticos acerbos.
Friedrich é uma exceção. Sua mente, seu coração e seu talento serviam ao Deus cristão. O que não o impediu de entretecer o nacionalismo e o protestantismo com o espírito teutônico que transpirava do gótico, essa a mistura poderosa da arte de Caspar David Friedrich.
Ironia do destino, foi Napoleão, aquele novo Cesar, visto por Friedrich e seus amigos como o Anticristo reencarnado, que ao saquear museus e palácios e levar para o Louvre antigos quadros alemães e dos Países Baixos, quem fez a Europa do Norte tornar a se orgulhar de sua herança medieval. E a lastimar, tardiamente, alguns dos tesouros que tinha em mãos e que lhe foram tomados (como o quadro acima, A Árvore dos Corvos, 1822).

“Casal Contemplando a Lua”, óleo sobre tela, 34 x 44 cm
Acervo Alte Nationalgalerie (Museu de Arte Antiga), Berlim


“A Árvore dos Corvos”, óleo sobre tela, 73.0cm de largura x 60cm de altura.
Acervo Museu do Louvre, Paris

Nenhum comentário:

Postar um comentário