sexta-feira, 9 de março de 2012

Arlequim com copo na mão (1905) Pablo Picasso

Pintura: Arlequim com copo na mão (1905)

Ao passar a se expressar em cores mais quentes, a obra de Pablo Picasso ainda demonstra resignação, mas abandona o luto que o acompanhou durante a Fase Azul. Não há uma demarcação nítida entre a Fase Azul e a Fase Rosa, como já foi dito aqui, foi uma transição suave. Talvez o mais importante nem sejam as cores, ou os temas, mas a pintura em si.

Ele começa a experimentar, usa e abusa de seu talento e criatividade, e isso resulta num estilo em que a figura em si não importa, ela é para ser anônima, é apenas a matriz e não uma pessoa. É caracterizada e não retratada. É um passo importante em direção à Arte Abstrata, mas ainda não é o mais importante nesse período. O que importa e marca, é a fluência da linha que ele começa a traçar em 1904 e que vai desembocar em seus trabalhos mais abstratos.

No século 19, os artistas que seguiam os cânones do Romantismo não eram valorizados, eram desrespeitados e não conseguiam sair do ostracismo. Eram até considerados mártires do refinamento, como se fossem uns atrasados que não quisessem andar com os tempos. Picasso voltava sempre a esse tema em sua Fase Rosa. Os contemporâneos do pintor espanhol se referiam a esse período como o Período Arlequim de Picasso.

O artista de circo simbolizava o artista em geral, e sua vida sofrida em particular, e esses artistas, escarnecidos e marginalizados, ao entrar no picadeiro, interpretavam com orgulho, punham a alma na dedicação à sua arte. E Picasso valorizava isso e fez dos artistas circenses o motivo mais presente em seus primeiros anos parisienses.

Para os adeptos do Romantismo, como Picasso, não havia diferença fundamental entre um artista de circo e um artista de teatro, ambos passavam pelo mesmo martírio artístico. O fato é que essa ligação afetiva entre os românticos e os artistas de circo acabou sendo a primeira oportunidade comercial real para Pablo Picasso.

Um galerista, palhaço aposentado, chamado Clovis Savigot, resolveu expor os quadros do pintor que tanto defendia e retratava os personagens do circo. E foi através da galeria de Savigot que Picasso conheceu Gertrude Stein e seu irmão Leo, que se tornariam importantes colecionadores de Arte Moderna, incentivadores de artistas e escritores e grandes amigos de Picasso.

A imagem de hoje é duplamente interessante. O arlequim com copo na mão está num dos cafés mais célebres de Paris – o “Lapin Agile”, fundado em meados do século 19. Por sua localização, pleno Montmartre, e por ser bem popular, o "Lapin Agile" era ponto de encontro de pintores, escritores e poetas no início de suas carreiras (o café ainda está lá...).

Mas o mais interessante é que o arlequim retratado é ninguém menos que o próprio Picasso, com a roupa que passou a significar tanto para ele e sua carreira.



Acervo: Coleção Particular

 por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - Blog do Noblat

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