Pintura: Francisco de Goya y Lucientes (1826)
O retrato: Em 1826, López pintou o retrato de Goya quando o grande mestre da pintura espanhola visitava a Corte, vindo de Bordeaux, onde então vivia. Goya estava com 80 anos e morreria dois anos depois. Consta que Goya se aborreceu ao posar, pois o colega era muito meticuloso e exigente com os detalhes e, por causa da impaciência do modelo o retrato não ficou tão perfeito como outros feitos por López.
Mas foi justamente esse detalhe, a forte personalidade do retratado que fica aparente no quadro, que fez desse retrato, ao longo dos anos, o mais intenso e o mais conhecido de todos os que López pintou.
Francisco José de Goya y Lucientes dispensa apresentações. Apelidado de “Goya, o Turbulento” por seus contemporâneos, deixou-nos testemunhos vibrantes da vida na Espanha, mostrando homens e mulheres de seu tempo, a paisagem, a tragédia, a comédia, a farsa, a miséria, e desenhando os deuses, demônios e feiticeiros que assombravam seu espírito.
A história de sua vida parece um romance de aventuras e apesar de Goya ter vivido em um tempo onde muito pode ser comprovado (1746-1828), jamais a lenda ou a verdade serão confirmadas. Goya foi um gigante intelectual e há quem diga que fez com o pincel, pelos espanhóis, o que Shakespeare fez com a pena, pelos ingleses.
Faz sucesso em Madrid com belos e coloridos cartões para tapeçarias. Em 1785, já era o “Primeiro Pintor da Corte”. Em 1792, adoece com enfermidade que lhe provoca surdez progressiva. Com a visão também prejudicada, começa então a isolar-se. Passa a notar o lado cruel e grotesco da vida e despreza o que ela apresenta de agradável. Desse período, são características as pranchas da série de gravuras “Os Caprichos”, que revelam uma faceta do artista que continuará a manifestar-se até sua morte.
Entre 1810 e 1814 produz uma das obras de arte mais incríveis que se conhece: “Os Desastres da Guerra”. A guerra nunca fora pintada como ela é, a morte e a crueza em lugar de heróis limpos e elegantes.
Exímio gravurista e pintor magistral, ele como que antecipa os diversos movimentos artísticos que virão: na exaltação da cor, o romantismo; na crítica aguda, o realismo; com as cores puras formando novas cores e delimitando os volumes, o impressionismo; na deformação da realidade, o expressionismo; e nas visões oníricas, o simbolismo. Foi, sem sombra de dúvida, um gênio.
Óleo sobre tela, 93 × 75 cm
Acervo Museu do Prado, Madrid
por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
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