segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Criatividade e Meditação - Pedro Tornaghi

CRIATIVIDADE E MEDITAÇÃO

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.Pedro Tornaghi
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Meditação e Criatividade levam ao mesmo destino: tornam o homem livre do medo.
Na Índia ouvi muitas vezes dizer que, dentre os ocidentais, os artistas foram os que mais se aproximaram da experiência meditativa. O exercício da criatividade e da sensibilidade foram os responsáveis por essa proximidade. Talvez, para nós nascidos à oeste da Arábia, a arte seja o caminho mais natural para os reinos da sutileza além de, certamente, ser um dos mais libertadores.
A experiência meditativa e o momento de inspiração e criação do artista estão extremamente próximos, porém, há diferenças. Essenciais. Muitos dos mais influentes artistas tiveram o ápice de sua criatividade aliados à evolução de sua loucura e de suas alucinações. Já a meditação, ao contrário, tem ajudado a muitos a saírem do estado de demência e não costuma levar a ele. As duas exploram o mesmo território, mas na meditação você costuma voltar inteiro dessa viagem.
O poeta pode criar poesias extraordinárias sem necessariamente se transformar como pessoa e sem abrir mão de seus velhos condicionamentos ou de hábitos mesquinhos. O pintor pode pintar suas obras-primas enquanto cultiva sua loucura. O meditante experimenta o jorro da criatividade aliada à lucidez e à clareza de percepção.
Enquanto a arte muitas vezes abre as portas do inconsciente sem fornecer o fio de Ariadne, fazendo com que artistas como Borges, Artaud, Nijinsly e Van Gogh, entre outros, se percam nos infindáveis labirintos da subjetividade, a meditação organiza psique da pessoa, revelando a ela uma bússola interna, um sentido de orientação, um sentimento do seu propósito original, que a permite mergulhar no oceano do universo interior sem se tornar escrava de conteúdos não estruturados do inconsciente. Ela mergulha no inconsciente para se libertar e nunca para se escravizar.
Um artista que experimente as meditações da criatividade, não só estará mais próximo da fonte criativa e com mais recursos para sua obra artística, como exercerá o ato criador com sanidade
A criatividade e a percepção artística se manifestam no hemisfério direito de nossos cérebros, enquanto a linguagem verbal é regida pelo esquerdo. Como vivemos numa sociedade onde a mente e a linguagem verbal são sobre-valorizadas, o lado esquerdo de nossos cérebros costuma ser dominante em detrimento do direito, que não se desenvolve como deveria e não contribui com todo o seu potencial para o nosso melhor viver.
Assim como nossa cabeça, o planeta também tem dois hemisférios: o oriental e o ocidental. O oriental se parece com o hemisfério direito do cérebro, procurando ver as coisas de uma maneira global e holística. O ocidental se identifica com a maneira de ver do lado esquerdo do cérebro, que costuma substituir a experiência direta pelos clichês da linguagem, tentando analisar intelectualmente a experiência. Quando pintamos, dançamos ou desenvolvemos a criatividade por alguma outra forma de expressão artística, ativamos a polaridade direita do cérebro, equilibrando nossa tendência racional com o uso da inteligência intuitiva.
Há pessoas que acham não ter talento artístico, ou que a meditação é uma arte exclusiva de seres superiores. Isso acontece porque elas não tiveram acesso ao seu lado direito do cérebro e não abriram seu portal da criatividade. Todos o temos mais próximos de nós do que imaginamos. As meditações aliadas aos métodos de desenvolvimento do potencial criativo do hemisfério direito do cérebro proporcionam o contato com essas aptidões em tempo surpreendentemente rápido. A prática mostra que o desenvolvimento do hemisfério direito do cérebro pela meditação evidencia que qualquer pessoa normal possui e pode desenvolver seus talentos artísticos. Em proporções inimagináveis anteriormente.
A meditação, num primeiro momento, desloca o centro da percepção e da elaboração da realidade para o lado direito do cérebro, deixando-nos imediatamente mais intuitivos e emotivos. Com a continuação do processo meditativo, integramos os dois hemisférios, e a nossa palavra passa a exprimir nossos sentimentos mais genuínos, deixando de ser uma barreira protetora de nossas emoções.
Os métodos de meditação ligados à arte nos levam perceber o mundo com a visão diferenciada do artista. Aliando arte à meditação, criamos uma situação utópica, onde estimulamos a pessoa a desenvolver seus potenciais adormecidos e ao mesmo tempo aprimorar a percepção, levando-o a enxergar o que há de extraordinário em cada momento da vida.
As meditações ligadas ao teatro ajudam a despirmo-nos de nossos personagens habituais, descobrindo a nossa própria linguagem. As de música proporcionam o encontro da ressonância interior e do silêncio, o pai de todas as criações. As de dança permitem uma sincronia com o pulsar interno. As de pintura revelam imagens internas, proporcionando um entendimento mais profundo das dinâmicas de nossa subjetividade. Todas elas levam ao “ponto zero”, expandindo a sensibilidade e a inspiração de forma progressiva, desenvolvendo a intuição e a originalidade.
As meditações ligadas à arte mostram ainda que a meditação não acontece apenas quando você está sentado numa posição estática. Elas evidenciam que meditar é celebrar a vida sem a interferência da mente e que você pode vivenciar isso em atividades dinâmicas.
Os exercícios de criatividade aliados às técnicas de meditação tornam o caminho mais fácil e estimulante, neles você pode experimentar um estado de vacuidade mental e o contato direto com a inteligência criativa. Nesse momento, um novo tipo de presença se instala em você. As meditações criativas o tornam progressivamente mais lúcido e capaz de lidar com os desafios do dia-a-dia, a criatividade vira sinônimo de consciência e liberdade, tornando-se o ingresso natural para o estado de meditação.

Visitem: www.pedrotornaghi.com.br
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