sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Retratos: Émile Zola (1868), por Édouard Manet

Pintura: Émile Zola (1868)

O pintor: O talento de Édouard Manet só desabrocha quando ele rompe com os estudos acadêmicos e parte em viagem pela Europa para copiar os grandes mestres. Em 1861, um retrato de seus pais abre as portas de um salão menor. Mas logo em seguida o escândalo e um rótulo: com “Almoço na Relva” e “Olympia”, ele se torna um “pintor não frequentável”. Amigo dos impressionistas, sofre a influência do grupo mas preserva seu próprio estilo.
De 1876 em diante, está quase sempre hospitalizado. Em 20 de abril de 1883 tem a perna esquerda amputada e morre dez dias depois. A ironia: Manet, cujas obras foram objeto de deboche e zombaria e que custou a ser aceito pela academia e pelo público, foi o primeiro pintor moderno a ser aceito no Louvre, então a catedral da pintura acadêmica, com “Olympia”, hoje no Museu d’Orsay.
O retrato: Émile Zola escreveu um artigo para a Revista do Século XX declarando que Manet seria um dos mestres do futuro e defendendo o artista das acusações que lhe faziam. Dizia mesmo que seu lugar era no Louvre. Manet, agradecido, pinta o retrato do escritor, polemista e jornalista.
O quadro foi feito no estúdio de Manet e o cenário montado de acordo com o retratado. Na parede, uma reprodução do “Olympia”, quadro defendido por Zola; “Baco” de Velásquez e uma gravura japonesa completam a decoração. Ele segura nas mãos um livro, provavelmente “A História dos Pintores”, de Charles Blanc. Na mesa, uma pena e um tinteiro, testemunhos do ofício do retratado.
Escritor com grande domínio de sua arte, Zola deixou obras marcantes: o texto considerado manifesto literário do movimento naturalista, “O romance experimental” (1880); “Thérèse Raquin”, com inúmeras inovações do naturalismo; “Os Rougon-Macquart”, saga de uma família do qual faz parte aquela que é considerada sua maior obra, “Germinal”. Apesar de sua qualidade literária, nunca integrou a Academia Francesa, para a qual se candidatou nada menos que 24 vezes.
Sua fama se deve ao célebre J’Accuse...! (Eu Acuso), que publicou em 1898, no jornal literário L’Aurore, em defesa do capitão Alfred Dreyfus, onde tornou evidente o que mais tarde viria a ser comprovado, a inocência de Dreyfus. O artigo foi tão impactante que levou a uma revisão do processo que só terminaria quatro anos depois de sua morte, com a reabilitação, em 1906, do oficial injustamente acusado de traição.
Zola morreu em 29 de Setembro de 1902, asfixiado por um escapamento na chaminé, em seu apartamento de Paris. Alguns choraram, outros aplaudiram. Zola era então, e desde muito tempo, objeto de admiração apaixonada ou de ódio irrefreável, por motivos literários, morais e políticos. Consta que isso não o desagradava.
Suas cinzas foram transferidas para o Panthéon em 1908, dois anos depois de Dreyfus ter sido reabilitado.
Óleo sobre tela, 146 × 114 cm.
Acervo Museu d’ Orsay, Paris

do blog do Noblat - www.noblat.com.br


 por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
18.11.2011

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