sábado, 22 de outubro de 2011

Artista naif tem genialidade a ser descoberta pelo Brasil (Oscar D'Ambrosio)

Artista naif tem genialidade a ser descoberta pelo Brasil
AS TELAS possuem variedades de cores e intensidade criativa semelhantes ao do pintor Vicent Van Gogh (1853-1890). 09/10/2011
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O HOMEM REJEITADO por Assis só foi reconhecido através de sua arte
A comparação não foi feita por nenhum entusiasta da arte naif ou de algum analista bairrista na tentativa de puxar ‘sardinha’ para os artistas da região de Marília. Mais especificamente, para Assis, a 80 quilômetros daqui. A interpretação de que Ranchinho se equipara ao gênio holandês, em talento e qualidade, é de Oscar D’Ambrosio, crítico da Associação Internacional de Críticos de Artes, a Aica. “O que mais impressiona na obra de Ranchinho é que ele retrata uma Assis que não existia na época que ele passou a desenvolver suas telas. A catedral que ele imprime nas telas não é a de hoje, que qualquer pessoa que visita a cidade observará. É a anterior, nas décadas de 1950 e 1960”, detalhou D’Ambrosio durante sua passagem por Marília, no mês passado. Nascido Sebastião Theodoro Paulino da Silva, em Oscar Bressane, 45 quilômetros de Marília, em 1923, Ranchinho se radicou em Assis, falecendo em 2003. A comparação de Ranchinho e Van Gogh está na obra escrita por D’Ambrosio, ‘O Van Gogh Feliz – Vida e Obra do pintor Ranchinho de Assis’, publicado pela editora Unesp. “Marcado por hábitos, como freqüentar a missa duas vezes por dia, além de acompanhar velórios e casamentos, Ranchinho ganhou a fama de artista exótico, repleto de manias, que decorriam, provavelmente, do fato de essas ocasiões solenes serem as únicas em que o artista podia estar presente sem ser expulso ou humilhado, marginalizado que foi na cidade por fugir aos padrões de normalidade comumente aceitos, tanto em termos de aparência como de atitudes. Em missas, enterros e casamentos, Ranchinho teve a sua única oportunidade de se inserir numa sociedade que tendia a excluí-lo. Para entender esse alheamento, é preciso conhecer o perfil do artista. Nascido em 1923, na fazenda Santo Humberto Lameu, município de Oscar Bressane, próximo a Assis, Sebastião era _ lho de um casal de bóias-frias. Sem falar ou ouvir direito, engatinhou até os quatro anos e, quando começou a andar, o fez de maneira desajeitada. Com esse histórico, foi expulso da escola, já que não conseguiu acompanhar as aulas, e só arrumou um trabalho fixo: auxiliar de João Romeiro, vendedor de garapa em Assis”, escreveu D’Ambrosio. Com a reinterpretação das artes populares brasileiras, que no momento tendem a ser valorizadas tal como na década de 1970, as telas de Ranchinho de Assis ainda serão descobertas pelo mercado de artes, prevê D’Ambrosio. “Ele é um gênio ainda a ser valorizado e esta valorização tende a ocorrer dentro dos próximos anos”, disse. Entre os artistas naifs contemporâneos e em plena atividade, como o mariliense Aloysio Dias da Silva e Waldomiro de Deus, o reconhecimento da contribuição de Ranchinho é uma certeza. Os quadros do homem rejeitado de Assis, que só foi aceito pela arte, nunca deixaram de ser reconhecidas ou de servirem de inspiração para os primitivistas.  
Fonte: Jornal Correio Mariliense 9/10/2011

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